Em cada três habitantes no planeta, pelo menos um, hoje, sofre de estresse. Chamada a doença dos tempos modernos, o estresse atinge homens e mulheres, idosos e crianças. Aqui estão algumas informações que podem ajudar no combate ao estresse, o qual, idealmente, deve ser tratado por profissional especializado, para garantir que não haja reincidência e que a pessoa possa planejar sua vida com qualidade, transformando o veneno em remédio, ou seja, extraindo do próprio estresse seu aprendizado para um estilo mais saudável de vida.
O estresse, segundo Dr. Fernando P. Souza, professor titular de. Neurofisiologia e Psicofisiologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) é uma doença de adaptação ao meio, em que o indivíduo, em função das estimulações, excitações e agressões externas, acaba produzindo uma escalada progressiva na defesa de seu organismo. No início, diz ele, é só o aumento do alerta geral, estimulando o sistema vegetativo e o cérebro para se defenderem. Dr. Souza lembra que o estresse pode ser até benéfico no desempenho, pois estimula a atenção nas tarefas e a prontidão nas contrações musculares. A situação de estresse se inicia, por exemplo, em funcionários de empresas, quando estes são requisitados além de seus limites para que as suas empresas sejam cada vez mais competitivas no mercado. Este fator, segundo Dr. Souza, é um constante gerador de um esforço muito grande, que leva ao estresse.
A Dra. Marilda Lipp, autora do livro O Estresse Está Dentro de Você, psicóloga em Campinas, São Paulo, diz que o corpo todo funciona como uma orquestra afinada e que, diante de uma grande tensão, alguns ´membros da orquestra´ começam a dar sinais de cansaço e já não trabalham mais em sintonia. "A orquestra do corpo toca o ritmo da vida com equilíbrio preciso", diz ela. "Mas quando o estresse ocorre, esse equilíbrio (a homeostase) é quebrado e não há mais entrosamento entre os vários órgãos do corpo – cada um trabalha em um compasso diferente, pois alguns órgãos precisam trabalhar mais e outros menos para poderem lidar com o problema".
Esta fase é a que Dra. Lipp chama de estresse inicial. Segundo ela, nossa natureza busca o equilíbrio por um impulso natural e, quando este não acontece, o organismo faz um esforço extra para restabelecer a homeostase anterior. É esse esforço que vem a ser a resposta adaptativa do ser humano, explica a psicóloga, e que às vezes exige um considerável desgaste e utilização de reservas de energia física e mental.Quando esse esforço atinge o limite que o indivíduo poderia suportar, e quando os estímulos estressantes são contínuos e de longa duração, ele pode se transformar em doenças, das mais diversas. Dessa forma, o corpo dá um álibi para que a pessoa modifique sua rotina, como o caso de um bombeiro em SP.
Levado pela irmã, uma psicóloga e aluna de Dr. Ernest Rossi, hipnoterapeuta, o bombeiro passou por sessões de hipnose terapêutica diante de uma platéia de duzentos profissionais de saúde. O bombeiro não fechava as mãos, devido a uma artrite que acabou por incapacitá-lo para o trabalho, sendo enviado para a reserva a prestar serviços burocráticos na guarnição.
Durante o transe hipnótico, o bombeiro foi se lembrando de dois fatores traumáticos em sua carreira: ele fôra escalado para ajudar no incêndio dos edifícios Joelma e Andrauss, duas grandes tragédias na cidade de São Paulo. No decorrer do transe, o bombeiro se recordou de que teve muito medo, mas que não podia revelá-lo, pois esta era sua profissão. Ele não desejava mais enfrentar situações semelhantes de emergência, porém, ao mesmo tempo, não tinha coragem de contar os seus medos aos superiores e aos colegas. Seu corpo, então, tratou de dar-lhe um motivo para ele ser enviado para a reserva, desenvolvendo a artrite e a imobilidade dos dedos da mão, de forma que ele não poderia mais segurar a mangueira e os instrumentos contra incêndio.
Esta é uma situação de estresse violento, em que o corpo ‘decide tomar uma medida’ para tirar o indivíduo daquela situação, porém dando-lhe outra situação desconfortável, que é uma doença. Após tratamento com Dr. Rossi, o bombeiro conseguiu (diante da mesma platéia) movimentar pouco a pouco os dedos das mãos, até conseguir fechá-las por completo. Esse é apenas um dos milhares de casos de pessoas que ficam incapacitadas para o trabalho, procurando aposentadoria precoce, devido ao estresse.
O estresse pode ser medido`por fora´, isto é, por fatores externos e desagradáveis – situações traumáticas, acidentes, perda de um ente querido por morte ou afastamento, roubos, perda do emprego, perda da liberdade. E pode até mesmo ocorrer devido a fatores externos positivos, desde que impliquem em uma mudança brusca no estilo ou na qualidade de vida de uma pessoa – tais como ficar rico de repente, o casamento, mudança de país, um sonho impossível subitamente realizado, um ganho inesperado, um bebê novo em casa. Significa que fatores ruins e bons podem ocasionar o estresse, pois essas mudanças tiram o indivíduo de seu ritmo natural, tendo ele que adaptar-se às novas situações.
Já os fatores internos são os mais decisivos, e são estes que mostram que dois indivíduos sujeitos ao mesmo fator externo têm reações bastante diferentes, podendo um desencadear o estresse e o outro não. A perda do emprego, por exemplo, pode ser muito ruim para um executivo que acredita que, pela idade, não conseguirá outro emprego. Mesmo que ele tenha recursos para sobreviver modestamente até o fim da vida, ele pode se sentir desamparado sem o vínculo com a empresa, o status de seu cargo, a remuneração mensal e o padrão de vida do qual tem medo de abrir mão. Um outro indivíduo, pelo contrário, pode encarar a perda do emprego como uma boa oportunidade para fazer algo diferente, começar seu próprio negócio e testar novas habilidades, transformando um hobby em profissão, sem se importar com a aparente segurança que uma empresa proporciona.
Os fatores internos são as nossas disposições mentais e posturas internas que nos levam a reagir mais ou menos intensamente aos fatores externos do quotidiano. Essas posturas internas, adquiridas ao longo da vida, são ensinadas na comunidade onde o indivíduo habita e onde ele precisa sobreviver socialmente, economicamente e filosoficamente. Nem sempre, porém, os desejos internos combinam com as imposições sociais, e isso gera um conflito que, se não for identificado, tratado e modificado, pode evoluir para sintomas físicos.
Uma clara descrição do que acontece com o indivíduo estressado é dada pelo Dr. Souza, que diz: "Na fase reativa, o aumento da escalada de excitação leva a reações instantâneas e profundas do organismo. Mas o corpo se mobiliza e faz de tudo para restabelecer o equilíbrio perdido. As vísceras procuram recuperar o estado de constância interna. O coração bate mais forte e mais rápido para suprir o oxigênio e a energia consumidos, o trato gastro-intestinal se paralisa para dar espaço ao sistema cárdio-motor. O sangue desaparece da pele, deslocando-se para os músculos esqueléticos e ficando em prontidão para a ação".
Além disto, o médico explica "A visão não consegue mais focalizar o detalhe e, junto com o cérebro, vasculha todo o horizonte em busca de um ataque inesperado. A mente não pára de cogitar das surpresas que o podem prender em armadilha. Instala-se uma espécie de pânico".
Durante a fase de estresse, o organismo libera muito cortisol e isso afeta diretamente a memória, causando falhas, esquecimentos, pequenos lapsos. A Dra. Lipp diz que o marco de nossa resistência é quando os sintomas aparecem. Ela lembra que, por um lado, esse momento tem seu aspecto positivo, pois é quando a pessoa vem a conhecer seu limite para o estresse.
O estresse pode ser medido `por dentro´, diz Anita Moraes, psicóloga e autora de livros sobre o assunto, quando a pessoa responde para si mesma se algumas coisas abaixo estão ou não acontecendo com ela:
- as coisas me irritam facilmente.
- sinto um cansaço enorme.
- tenho resfriados e gripes com freqüência.
- ando muito distraído, tem dias em que só quero dormir.
- sinto uma tristeza que não passa.
- não tenho mais de onde tirar forças para continuar.
- sinto dores difusas em várias partes do corpo.
- se pudesse, não iria trabalhar e não falaria com ninguém.
- quando percebo, estou gritando com as pessoas.
- sinto crises de pânico.
- às vezes, penso que vou morrer logo.
- qualquer mínimo ruído me incomoda.
- sinto medo.
- principalmente, ando muito esquecido.
Pessoas com rígidas posturas mentais têm maior tendência a desencadear estresse, uma vez que vivem em luta para controlar tudo à sua volta, dominar, fazer-se respeitado em suas vontades e crenças, querendo que o ambiente lhes seja cem por cento generoso e favorável, o que nem sempre é possível. Em outras palavras, a pessoa não flexível, não vulnerável e impaciente com o meio externo tenta adaptar-se aparentemente, mas por dentro, ao mesmo tempo, não deseja abrir mão de suas convicções e por isso entra em conflito.
A Dra. Lipp adverte que quem teve uma forte crise de estresse possui uma grande probabilidade de reincidência, a não ser que aprenda a:
- entender o que o estressou.
- reconhecer os sintomas.
- identificar seus limites de resistência.
- lidar com as causas.
É muito importante, para sair do estresse, que a pessoa aceite reavaliar seu sistema de crenças, que não necessariamente são suas crenças religiosas, embora estas também se incluam na lista. São as nossas crenças do quotidiano, do nosso estilo de vida: acreditar que tal profissão é melhor para o filho, que tal casamento é bom para a filha, que tal maneira de vestir-se ou de agir é boa para ser aceita em seu meio, que acumular dinheiro leva à segurança, que tal empresa garante a estabilidade no emprego. Lembrando que os medos também são crenças – por exemplo, a pessoa tem medo de se aventurar em novo trabalho, por medo de fracasso ou rejeição.
Existem formas de se combater o estresse, e uma delas, muito importante, é a psicoterapia com profissionais especializados em estresse, lembra a Dra. Lipp. Mas nem todos têm acesso à psicoterapia, por questões econômicas, e estes também precisam sair do estresse. Como lidar com esta dicotomia?
Para combater o estresse é preciso manter o ritmo biológico, respeitando, sobretudo, o sono de qualidade, diz Dr. Souza, e gozar de atitude de introspecção. O estresse não ocorre quando o ritmo biológico está em harmonia. O Dr. Souza lembra que comer de acordo com a fome e liberar as vísceras para fluírem naturalmente no seu ritmo próprio de equilíbrio é um dos passos a serem seguidos.
Mudanças de atitude mental favorecem bastante o alívio do estresse, ou seja, quando não damos a um fato uma dimensão tão grande, o fato não incomoda e não provoca desgaste ou tensão.
Meditar sobre uma frase de Gandhi pode ajudar uma pessoa com estresse: "Sem resistência não há luta". Isto quer dizer que o indivíduo paciente e tolerante, ou que aprende a desenvolver essas características, não entra em conflito com os fatos que lhe acontecem e não desenvolve facilmente o estresse.
Identificar completamente – e sem receio de enfrentar - os próprios desejos e as próprias frustrações, praticar a aceitação, a flexibilidade, o bom humor, independente do que esteja acontecendo externamente, ajuda a combater o estresse.
Dr. Fernando de Souza lembra que "o mais difícil, no entanto, é manter-se equilibrado num mundo cada vez mais desequilibrado". Difícil, mas não impossível.
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