PIERCINGS E TATUAGENS PODEM TRAZER RISCOS À SAÚDE
As agências de saúde norte-americana e britânica alertam os jovens contra possíveis problemas decorrentes da colocação desses adornos, como a transmissão do vírus da hepatite B.
Com a elevação das temperaturas, a preocupação com a forma física é quase inevitável. Além de aumentar a freqüência na academia, muita gente pensa em colocar piercings e tatuagens para complementar o corpo "sarado" no verão. Antes de aderir a qualquer novidade é preciso saber que esses adornos podem trazer riscos à saúde. A FDA, agência norte-americana de saúde, alerta que agulhas não higienizadas são potenciais transmissoras dos vírus da hepatite B e da Aids, que entram no corpo pela corrente sanguínea.
Extremamente resistente, o vírus da hepatite é cem vezes mais contagioso do que o da Aids. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, dois bilhões de pessoas já tiveram contato com esse vírus. Deste total, 350 milhões tornaram-se portadores crônicos da doença - cerca de 5% da população mundial. De 30 a 50% dos doentes crônicos vão desenvolver câncer de fígado ou cirrose hepática.
No Reino Unido, onde um em cada dez jovens usa piercing, estudo publicado em 2008 no British Medical Journal revelou que 28% das pessoas que colocaram esta jóia tiveram algum tipo de complicação, enquanto 13% tiveram sérios problemas de saúde. Realizado pela Agência de Proteção à Saúde e a Escola de Londres de Higiene e Medicina Tropical, o levantamento envolveu 10.503 entrevistados maiores de 16 anos e apontou o surgimento de inchaço, infecção e sangramento como o problema mais recorrente. Piercings aplicados na língua foram os responsáveis pelo maior número de queixas (50%).
Fraturas de dentes, infecções, dores, mau hálito, sangramentos prolongados e ferimentos na gengiva são as complicações mais comuns decorrentes de piercings dos jovens pacientes da estomatologista Jacqueline Nagel, cirurgiã-dentista especializada em doenças de boca. "Como o piercing é um corpo estranho, a cavidade bucal se ressente desse processo invasivo, cujas conseqüências danosas não justificam nenhum fim estético ou de modismo", afirma. A maior parte dos pacientes queixosos está na faixa entre 10 a 20 anos.
"São jovens que querem ter um diferencial ou se identificar com alguma tribo urbana", avalia a estomatologista. Se o piercing não for retirado, os problemas podem se agravar com a perda do paladar, a hipersalivação, a interferência na habilidade da fala e da deglutição. "Além disso, o contado do piercing com metais existentes em restaurações e próteses pode provocar um "choque" na boca, ou seja, uma sensação semelhante ao que acontece quando mordemos alumínio", explica a dentista.
A falta de cuidados com a biosegurança pode levar a pessoa a sofrer infecções no local da aplicação ou no próprio organismo, principalmente quando o piercing é colocado por pessoas sem formação técnico-científica. Os cuidados vão desde a esterilização do instrumental, passando pela qualidade do piercing até chegar à técnica de aplicação. Na visão de Jacqueline Nagel, a falha em qualquer etapa deste processo pode levar a pessoa a ser contaminada pelos vírus da hepatite B e C e até da Aids.
A dermatologista Ana Maria Mósca, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, aconselha às pessoas que querem colocar tatuagens a procurar profissionais, que usem materiais descartáveis, como agulhas e tintas. "Em locais que usam a mesma tinta em várias pessoas, esses vírus podem ser transmitidos", revela a médica. Outra recomendação da médica é a vacinação contra a hepatite B 45 dias antes da aplicação, uma vez que não existem ainda vacinas contra a hepatite C e a Aids.
"Hoje, as crianças são imunizadas contra a hepatite B ao nascer. Quem não se vacinou na infância precisa se proteger, como prevê o calendário de imunização para jovens e adultos. Não se admite as pessoas ficarem suscetíveis a uma doença evitada por vacina", desabafa a médica.
Na opinião da pediatra Lucia Bricks, Doutora em Medicina pela USP e gerente-médica da Sanofi Pasteur, a divisão de vacinas do grupo Sanofi-Aventis, o ideal é que os adolescentes tomem a vacina contra hepatite B antes do início da atividade sexual - outro importante meio de contaminação da doença.
No Brasil, menos de 50% dos adolescentes estão protegidos contra hepatite B, embora a vacina esteja disponível na rede pública para menores de 20 anos. "Muitos iniciam o esquema, mas não completam as três doses, necessárias para conferir proteção duradoura", lamenta a médica. Como a memória imunológica não se perde, é possível prosseguir com o esquema de vacinação, independentemente do tempo decorrido desde a última dose.