O anúncio feito na segunda-feira de que os cientistas franceses Luc Montagnier e Françoise Barre-Sinoussi vão receber o Prêmio Nobel de Medicina pela descoberta do vírus da Aids foi um golpe para a reputação do norte-americano Robert Gallo, com quem Montagnier travou uma amarga disputa pelo crédito da pesquisa.
Foto de arquivo mostra os cientistas franceses Luc Montagnier e Françoise Barre-Sinoussi, que ganharam o Nobel de Medicina pela descoberta do vírus HIV; o alemão Harald zur Hausen, por seu trabalho sobre a causa do câncer cervical
No começo da década de 1980, Gallo e Montagnier se colocaram como rivais na corrida para identificar a misteriosa doença que na época matava principalmente homossexuais masculinos e usuários de drogas injetáveis.
Mais de duas décadas depois, o Comitê do Nobel deu o seu veredicto sobre esse duelo científico. "Não há dúvida sobre quem fez as descobertas fundamentais", disse Maria Masucci, integrante do comitê, à Reuters.
Montagnier e Barre-Sinousi foram mais generosos, dando crédito a Gallo pela descoberta do vírus HIV.
"É um conflito a ser esquecido. Também é verdade que equipes norte-americanas foram importantes na descoberta do vírus, e isso deve ser reconhecido", disse Barre-Sinoussi por telefone à rádio RTL.
Gallo foi igualmente educado. "Fico satisfeito que meu velho amigo e colega, o dr. Luc Montagnier, assim como sua colega Françoise Barre-Sinoussi, tenham recebido esta honraria", disse ele em nota. "Fico gratificado por ler a gentil declaração do dr. Montagnier hoje de manhã manifestando que eu era igualmente merecedor."
Já John Niederhuber, diretor do Instituto Nacional do Câncer, lembrou que Gallo e Montagnier durante anos receberam crédito conjunto pela descoberta.
"Embora estejamos satisfeitos por dois cientistas que contribuíram tanto com a pesquisa da Aids terem sido reconhecidos hoje, estou extremamente desapontado por o INC e todos os recursos que ele angariou para a descoberta do vírus da Aids - junto com a tecnologia para tornar os bancos de sangue seguros e as drogas que fizeram da Aids uma doença crônica - não terem sido, de certa forma, reconhecidos", acrescentou ele em nota. "Adicionalmente, o dr. Gallo descobriu os exames de sangue para a Aids."
Nos primórdios da doença, Gallo e Montagnier obtiveram um possível retrovírus ligado à Aids e trocaram amostras.
Gallo, então ligado ao Instituto Nacional do Câncer, anunciou em abril de 1984 que havia descoberto o vírus que causa a Aids, que seria diferente do vírus identificado pelos pesquisadores franceses.
Soube-se depois que Gallo estava trabalhando com uma amostra contaminada no laboratório de Montagnier, e só anos depois o Instituto Nacional de Saúde dos EUA e o Instituto Pasteur, da França, concordaram em dividir o mérito da descoberta.
"Acho que Bob fez uma contribuição muitíssimo importante para o campo do HIV, ao apresentar a prova mais forte...do vírus, que havia sido identificado por Montagnier, como agente causador ", disse por telefone Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA.
"É lamentável que o comitê não possa dar o prêmio a mais de três pessoas. Se pudesse, tenho certeza de que Bob mereceria muito."
O terceiro destinatário do Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2008 foi o alemão Harald zur Hausen, da Universidade de Duesseldorf, responsável por pesquisas que associaram o papilomavírus humano (HPV) ao câncer do colo do útero.
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