Quem tem medo de 1968?
Como vocês, leitores da História Viva, devem saber, nossa última edição traz um dossiê especial sobre o ano de 1968 (para os que não sabiam, fica aqui registrado). Pois bem, obviamente a decisão de publicar o dossiê foi motivada pela proximidade das comemorações dos 40 anos do Maio de 68. Ao invés de concentrarmos a edição apenas nos eventos da França, porém, decidimos encarar 68 em uma perspectiva mais ampla, tentando entender porque esse ano continua tão marcante não só no Brasil como no mundo inteiro.
Pois bem, até aí nada de novo. Em todo o planeta toneladas de papel e tinta estão sendo gastos para lembrar a efeméride. Ninguém, portanto, nega a importância desse verdadeiro divisor de águas da história contemporânea. O ano de 1968 está longe de ser esquecido, e isso não deixa de surpreender em uma época que em certos aspectos representa uma verdadeira antítese em relação àqueles tempos de sonho e rebeldia. Confesso que isso me deixava intrigado: nesse mundo onde “o medo venceu a esperança” (invertendo a fórmula do nosso guia e mestre), como 68 continua a estar na ordem do dia?
Ontem, ao participar do Roda Viva com Zuenir Ventura, finalmente descobri o motivo. Por muito tempo 68 significou rebeldia e utopia cultural, comportamental, existencial, estética e política. Tudo junto, sem distinção. Aliás, um dos grandes méritos dos movimentos que marcaram 68 foi justamente ter derrubado as barreiras que separavam esses campos. A política transbordou para o campo da vida cotidiana, passou a se refletir nas opções de vida de cada um. Se libertou dos estreitos limites do parlamento, do partido ou do quartel e ganhou as ruas.
O grande problema para aqueles que insistem em ver 68 como uma simples renovação de costumes é que estas pessoas não conseguem ver a política para além das grades que o partido, os jornais ou o governo lhes impôs. Certa vez Orson Welles disse que as pessoas fazem jornalismo em muitos lugares, inclusive nas redações. Pois é... o que 68 ensinou é que as pessoas fazem política em muitos lugares, até no parlamento.
Escrevo tudo isso para dizer que, diante, de um esforço que se faz hoje para apagar o legado político de 68, precisamos fazer jus à história e lembrar que sem aquele ano provavelmente o movimento altermundista que surgiu nos anos 90, talvez a única proposta realmente democrática surgida desde a queda do Muro de Berlim, provavelmente nunca teria existido. É por isso que fica aqui o registro de um tempo que nos deixou o legado de uma nova política, aquela que queria colocar a imaginação no poder.
Como vocês, leitores da História Viva, devem saber, nossa última edição traz um dossiê especial sobre o ano de 1968 (para os que não sabiam, fica aqui registrado). Pois bem, obviamente a decisão de publicar o dossiê foi motivada pela proximidade das comemorações dos 40 anos do Maio de 68. Ao invés de concentrarmos a edição apenas nos eventos da França, porém, decidimos encarar 68 em uma perspectiva mais ampla, tentando entender porque esse ano continua tão marcante não só no Brasil como no mundo inteiro.
Pois bem, até aí nada de novo. Em todo o planeta toneladas de papel e tinta estão sendo gastos para lembrar a efeméride. Ninguém, portanto, nega a importância desse verdadeiro divisor de águas da história contemporânea. O ano de 1968 está longe de ser esquecido, e isso não deixa de surpreender em uma época que em certos aspectos representa uma verdadeira antítese em relação àqueles tempos de sonho e rebeldia. Confesso que isso me deixava intrigado: nesse mundo onde “o medo venceu a esperança” (invertendo a fórmula do nosso guia e mestre), como 68 continua a estar na ordem do dia?
Ontem, ao participar do Roda Viva com Zuenir Ventura, finalmente descobri o motivo. Por muito tempo 68 significou rebeldia e utopia cultural, comportamental, existencial, estética e política. Tudo junto, sem distinção. Aliás, um dos grandes méritos dos movimentos que marcaram 68 foi justamente ter derrubado as barreiras que separavam esses campos. A política transbordou para o campo da vida cotidiana, passou a se refletir nas opções de vida de cada um. Se libertou dos estreitos limites do parlamento, do partido ou do quartel e ganhou as ruas.
O grande problema para aqueles que insistem em ver 68 como uma simples renovação de costumes é que estas pessoas não conseguem ver a política para além das grades que o partido, os jornais ou o governo lhes impôs. Certa vez Orson Welles disse que as pessoas fazem jornalismo em muitos lugares, inclusive nas redações. Pois é... o que 68 ensinou é que as pessoas fazem política em muitos lugares, até no parlamento.
Escrevo tudo isso para dizer que, diante, de um esforço que se faz hoje para apagar o legado político de 68, precisamos fazer jus à história e lembrar que sem aquele ano provavelmente o movimento altermundista que surgiu nos anos 90, talvez a única proposta realmente democrática surgida desde a queda do Muro de Berlim, provavelmente nunca teria existido. É por isso que fica aqui o registro de um tempo que nos deixou o legado de uma nova política, aquela que queria colocar a imaginação no poder.
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